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sexta-feira, 19 de julho de 2013

* PODODERMATITES E VASCULITES.....


  DOS CANÁRIOS DE COR,PORTE E CANTO

Stella Maris Benez


Médica Veterinária Homeopata - CRMV – SP – 4953

Mestre em Patologia de Aves

Especializada em aves há 24 anos, Homeopata há 18 anos.

* Diretora do ProAve – Veterinária e Tecnologia

* Clínica, Assistência Técnica e Patologia de Aves


No ano de 2009, recebemos em nosso ambulatório muitos casos de pododermatite e vasculite em criatórios de canários. No artigo deste ano escreveremos sobre o porquê e como aparecem como prevenir e como tratar estas doenças que acometem nossas criações. Porém, se sua criação teve problemas sérios, é aconselhável que seja feita uma análise específica do problema. Tenham paciência e determinação no tratamento, pois estes problemas são resolvidos, porém adotando medidas precisas. Problemas de saúde, quando solucionados, devem ter continuidade na prevenção durante um período de 1 a 2 anos, pois eles podem voltar a complicar a criação. Passaremos ainda algumas orientações para a prevenção na criação de 2010.
Definições: (Stedman, 1996)
  • Pododermatite: a pododermatite é a inflamação da pododerma, ou seja, inflamação da pele que reveste o pé dos canários. A pododermatite pode se apresentar na forma infeccionada.
  • Vasculite: a vasculite é a inflamação de vasos sanguíneos. Ela pode se manifestar na forma cutânea, que afeta a pele, mas também pode envolver outros órgãos, por haver ligação circulatória entre todos os vasos do corpo.

Pododermatite:

Importância da pododermatite:

A pododermatite atinge o coxim plantar das aves (almofadinha), causando lesões em diferentes graus. Pode provocar sintomas como: claudicação, e até mesmo a impossibilidade de se alimentar e de se acasalar, tudo isto provocado por inflamação e dor.

A pododermatite pode se instalar quando fatores predisponentes estão presentes. Uma vez instalada, se não for devidamente tratada evoluiu causando danos aos membros da ave, dificultando sua busca por alimento, seu conforto no poleiro, sua locomoção, podendo debilitá-la levando a septicemia e óbito da ave (RUPLEY, 1999). O tratamento variará então em função da gravidade de cada caso, e resposta da ave ao tratamento.

As causas principais das pododermatites dos canários são:

  • Tipo e espessura do poleiro.
  • Baixa higiene dos poleiros, com presença de muitas fezes e uratos, os quais provocam queimaduras e abrasões nos pés das aves;
  • Condições ambientais favoráveis, como excesso de umidade.
  • Má alimentação ou erros alimentares (RUPLEY, 1999) que permitem que a pele fique seca, com hiperqueratose; provocada, por exemplo, pela deficiência de biotina. O excesso de farelo de soja (devido ao seu teor elevado de potássio, aumenta a umidade das fezes, o que leva à irritação das patas em contato com estes excrementos. A presença de oligosacárides não digestíveis provocam problemas semelhantes, etc.(Berchieri e Macari, 2003).
  • Contaminação crônica pela sarna dos canários (Knemdocóptis sp).
  • Diminuição da imunidade pelo estresse.
Vasculite:


A vasculite é observada apresentando muitos subtipos de gravidade. A maioria dos casos são graves para a ave. Esta enfermidade é normalmente secundária a um processo primário localizado, neste caso, a pododermatite. Mas pode ocorrem após problemas sistêmicos, enfermidades estas que não citaremos neste artigo. Quanto mais rápido o diagnóstico, melhor serão as chances de tratamento.

A vasculite é a inflamação da parede do vaso sangüíneo, que ocorre devido a deposição de anticorpos ou complexos-imunes em suas paredes. Estes anticorpos e complexos imunes são formados após a instalação de processos inflamatórios e infecciosos primários, como o caso da pododermatite. Anticorpos e complexo-imunes são formados durante quaisquer processos infecciosos, e podem ser depositados em vasos (vasculite), em articulações (reumatismo), no coração (miocardites), nos rins (nefrites por depósito de complexos-imunes, etc. São seqüelas das infecções. Estas seqüelas não são tratadas por antibióticos.

Os vasos, principalmente da pata contaminada, tornam-se aumentados, porém com o estreitamento interno do calibre vascular, com conseqüente isquemia (menor irrigação sangüínea) no território suprido pelo vaso acometido. Progressivamente, todas as artérias e as veias são comprometidas, de forma isolada ou concomitante, incluindo aorta e seus ramos, grandes artérias musculares, artérias de médio e pequeno calibre, arteríolas, capilares, vênulas pós-capilares e veias.

Existem as formas pouco agressivas (pele e articulações) e as destrutivas ou mortais. A evolução pode ser aguda ou lenta, dificultando o diagnóstico. O agente etiológico primário pode ser removido ou controlado. Não existe um estudo bem definido nem mesmo em humanos de como complexos-imunes ou anticorpos se depositam nos vasos, porém se depositam. Inúmeros fatores podem estar envolvidos. O diagnóstico rápido da vasculite induz à precisão no tratamento, prognóstico e a avaliação dos órgãos potencialmente comprometidos.


Agentes causadores secundários:


O agente bacteriano mais comumente isolado destas lesões é o Staphyloccocus spp, (encontrado no ambiente, trato respiratório e na pele das aves (GUIMARÃES, 2006), dentre muitos tipos o principal é o Staphyloccocus aureus (citado por RUPLEY (1999), COOPER & HARRISON (1999), GUIMARÃES (2006) e GODOY (2006)). Este agente pode estar relacionado a outras enfermidades secundárias, que levam a ave à morte, como por exemplo: reações de hipersensibilidade, artrite, osteomielite, hepatite, miocardite, tendinite, vasculite, conjuntivite, esplenite, nefrite, meningite, encefalite e mielite. (GODOY, 2006).

Sinais clínicos da doença:

Os pés e pernas dos canários são recobertos por pele e escamas. A pododermatite apresenta sinais clínicos de: edema (inchaço), eritema (vermelhidão), ulceração, espessamento (hiperqueratose), constrições (diminuição de diâmetro), massas ou outras lesões proliferativas de coloração amarelada. A pododermatite aparece na face plantar dos pés dos canários. (RUPLEY, 1999); (BENEZ, 2010).

As lesões surgem inicialmente por abrasão da pele, formando uma lesão avermelhada e pruriginosa, que pode evoluir para uma lesão exudativa, amarelada e ulcerada. Com o avanço dos sinais da inflamação poderá haver a infecção desta para afetada, havendo infecção bacteriana na forma primária ou secundária. (COOPER & HARRISON, 1999).
Existem vários graus de severidade da pododermatite e da vasculite, o que influenciará no tratamento e na duração do processo patológico (RUPLEY, 1999).

Orientações Gerais:
  • Corrigir e fazer um bom manejo alimentar.
  • Higienização de poleiros.
  • Lesões leves podem ser tratadas com escarificação com escova, depois o uso de anti-sépticos locais e/ou um gel de cicatrizante.
  • Lesões mais graves devem ser avaliadas mais detalhadamente quanto à presença de vasculite. A debridação e limpeza de abscessos são necessárias.
  • O uso de analgésicos e antiinflamatórios locais para promoção de bem estar e melhora do apetite será necessário.
  • Antibioticoterapia sistêmica deve ser indicada em casos graves. Cooper & Harrison (1999) afirmam que lesões por Staphyloccocus spp geralmente não respondem à terapia com antibióticos tópicos, fazendo-se necessária associação sistêmica na água de bebida.
  • A Homeopatia aumenta a imunidade e melhora a resistência física da ave, principalmente nos casos em que a vasculite já está instalada e as lesões causadas por anticorpos e complexos-imunes já estão instaladas.
  • A realização de curativos freqüentes (à cada 24-48h) conforme a necessidade de cada caso auxilia na aceleração da cura clínica, e são realizados até a remissão total da lesão (em torno de 7 a 10 dias).
  • Produtos a base de Gentamicina e Valerato de Betametasona podem ser usadas somente no local, pois a gentamicina é tóxica para o rim. Antibiótico à base de ampicilina, amoxaciclina, enrofloxacina, piperaciclina, carbenicilina, cefalosporinas tem ação.
  • Em caso do uso de antibióticos recomendamos a realização de cultura e antibiograma das lesões a fim de optar-se pelo melhor antibiótico para cada caso.
  • Repouso e o mínimo de manipulação da ave ou da gaiola, a fim de facilitar a recuperação da ave.
  • Não se recomenda o uso de pomadas a base de lanolina e vasilina, pois provocam um espessamento da pele, agravando o quadro. Dê preferência à forma gel. (Benez,2010).

Manejo de poleiros:
  • Remover poleiros de aves muito ruins.
  • Higienizá-los com solução de cloro de 2 a 10%, enxaguar com muita água corrente, e re-introduzidos na gaiola secos.

Curativos preconizados por alguns autores (citado por RUPLEY (1999), COOPER & HARRISON (1999), GUIMARÃES (2006) e GODOY (2006). Estes autores experimentaram várias formas de tratamento que achamos necessário passar para os criadores. Como lidamos com Homeopatia, muitos destes não usamos em nosso consultório. Este protocolo foi elaborado para um experimento feito em aves, por Kelecom, em 2008.

  • Lesões leves a moderadas tratados com solução de Iodopovidona e Digluconato de Clorexidina a 0,5% (Povidine e Furanil).
  • Lesões leves a moderadas tratados com gel poli-valente apresentando em sua formulação Gentamicina, Valerato de Betametasona e Clotrimazol. (nomes comerciais Otomax / Aurivet).
  • Lesões graves tratados com gel apresentando em sua formulação poli-valente Gentamicina, Valerato de Betametasona e Clotrimazol (pomadas do mercado Otomax / Aurivet) e antibioticoterapia oral com Enrofloxacino a 6% (Piusana antibiótico).

Resultados dos curativos testados segundo (KELECOM, 2008):


  • Seqüelas observadas no membro comprometido foram: perda de uma ou mais garras, perda de função do dígito, necrose de um ou mais dígitos, perda de função do membro comprometido e necrose do membro.
  • Menor presença de seqüelas na utilização de Povidine e Furanil, seguidos de Otomax/ Aurivet e por último Otomax/ Aurivet associados ao Piusana.
  • Tempo de evolução: os melhores resultados foram obtidos quando associou-se antibiótico oral à terapia tópica, alcançando 92% das aves cicatrizando no tempo esperado, seguido pelo tratamento com Otomax/ Aurivet com 79% das aves completando cicatrização em sete dias, e por último o tratamento com Povidine e Furanil, no qual apenas 40% das aves tiveram suas lesões cicatrizadas em uma semana.
  • No grupo da associação, apenas um canário teve o tempo de cicatrização maior que sete dias, pois apresentava lesões profundas, com necessidade de 16 dias de tratamento para total cicatrização.
  • A terapia utilizando Otomax/ Aurivet apresentou resultados satisfatórios em relação à cicatrização, com quase 80% dos casos completando cicatrização em sete dias em lesões leves.
  • O uso dos anti-sépticos no tratamento das pododermatites é válido, porém segundo os dados obtidos pelo autor, imprime num maior tempo de cicatrização para a ave, girando em torno dos 10 dias.
  • A associação de antiinflamatórios e antibióticos bactericidas provocou um retardo da cicatrização, porém eficiente na cicatrização completa das feridas.


Conclusões dos tratamentos em geral: (Kelecom, 2008)

  • A facilidade do tratamento e a boa receptividade da ave contribuem para sua utilização sempre que as lesões forem iniciais.
  • Nos casos iniciais ou de lesões mais simples, a utilização tópica de anti-sépticos como iodo-povidona ou clorexidina apenas, foi suficiente para a cura das feridas.
  • A associação de antiinflamatórios tópicos é de grande valia no tratamento, acelerando a remissão dos sinais clínicos e encurtando o tratamento, principalmente nos casos de lesões moderadas, onde a utilização apenas de anti-sépticos levaria a um maior tempo de cicatrização.
  • A ampla maioria dos casos pode ser tratada com este protocolo que combinam antibiótico (gentamicina) e antiinflamatório (valerato de betametasona), proporcionando ótimos resultados, podendo ser utilizado pelo clínico de aves como primeira escolha no tratamento das pododermatites.
  • Nos casos em que não houver remissão das lesões, ou ainda nos casos crônicos e recorrentes deve ser realizada cultura e antibiograma da lesão, a fim de proporcionar um tratamento mais correto. A utilização dos antibióticos orais associados à medicação tópica deve ser eleita nos casos mais severos, onde as ulcerações estejam em estado mais avançado, ou que haja presença de necroses e outras complicações. Este protocolo também deve ser utilizado apenas enquanto aguarda-se o resultado de cultura e antibiograma da lesão.
  • A utilização deste protocolo aliado à correção nutricional e melhor higiene do recinto comumente mostram-se suficiente para proporcionar cura das lesões, e nestes casos à troca de antibiótico após resultado de antibiograma é questionável.
  • Tendo como universo as aves de pequeno porte, quando ocorrem seqüelas como necroses, perda de funcionalidade do dígito e até mesmo do membro inteiro, perda de garra do dígito mais afetado, raramente ocorrem remissões, levando a ave a uma seqüela permanente, que embora não lhe comprometa a vida, reduz a qualidade desta sensivelmente.
  • Por esta razão, o tratamento deve sempre ser escolhido tendo-se em mente a prevenção da formação de seqüelas, cabendo ao clínico ser tão agressivo quanto a lesão que a ave apresente.
Estes tratamentos são viáveis quando se trata de cuidar de poucas aves acometidas, bem como do tempo disponível pelo tratador ou do criador. Quando tratamos plantéis, que é nossa maior preocupação, devemos adotar medidas sistêmicas e gerais para todas as aves, pensando no tratamento e na prevenção. São necessários os tratamentos na água de bebida de ação local e sistêmica. Trabalhamos com Alopatia e Homeopatia oral, e a prevenção com a Homeopatia durante as próximas duas temporadas de reprodução das aves.



Tratamento Homeopático:


São medicamentos indicados tanto para tratamento da doença, como para tratamento de enfermidades primárias:

Cada caso é analisado separadamente e medicado de acordo com a somatória de sintomas gerais dos canários.

Escolha de uma medicação é feita pela similitude entre a Matéria Médica do medicamento e os sintomas dos canários. A dose geralmente é de 10 gotas em 2 litros de água, devendo haver melhora do quadro em 72-94 horas; ou então, troca-se à medicação.

Referências bibliográficas:

BENEZ, S.M. Aves: Criação, clinica, teoria e prática. 4ªed. Tecmedd, 2004.

BERCHIERI JUNIOR, A. & MACARI, M. Doenças das Aves. Fapesp, Facta, 2003.

COOPER, J.E.; HARRISON, G.J. Dermatology. In RITCHIE, B. W.; HARRISON, G.J.;

GODOY, S.N. In CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.; CATÃO-DIAS, J.L. Tratado de Animais

Selvagens. São Paulo: Roca, 2006. Seção 4, Cap 16, p. 222-251.

GUIMARÃES, M.B. In CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.; CATÃO-DIAS, J.L. Tratado de

Animais Selvagens. São Paulo: Roca, 2006. Seção 4, Cap 22, p. 324-339.

KELECOM, P. M. Pododermatite em aves de gaiola. Trabalho monográfico de conclusão do curso de Pós Graduação em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens e Exóticos da Qualittas – UCB, 2008.

RUPLEY, A.G. Manual de Clínica Aviária. São Paulo: Roca, 1999.

STEDMAN. Dicionário Médico. 25ª ed. Guanabara Koogan, 1996.